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Relato de Parto

Quando criei o blog, a segunda postagem foi contando sobre como foi o a gestação, o pré-parto, parto e pós-parto. Só que eu escrevi 3 meses após ter vivenciado o momento que né... eu idealizei como algo transformador em minha vida. Que de certa maneira foi... Então após mais de 3 anos eu resolvi escrever um relato com mais detalhes. 

Passei a maior parte da gestação na incrível e árdua caminhada à procura de um obstetra pelo plano de saúde que topasse acompanhar o meu parto natural. 

Optei pelo parto natural por simplesmente morrer de medo de ter que passar por alguma cirurgia na vida. Sim, eu temia precisar ser operada. Fui nascida através de uma cesárea e desde pequena quando via as fotos do meu nascimento achava tão esquisita a barriga da minha mãe com um corte enorme, e eu sendo segurada pelos pés pelo obstetra na minha primeira foto. 

Nunca imaginei que seria algo quase que impossível parir na cidade do Rio de Janeiro. Tá certo que o meu plano de saúde era bem caidinho, mas eu passei 27 semanas nessa busca incansável até que eu finalmente eu consegui agendar uma consulta com um obstetra que atendia em uma maternidade onde meu plano era aceito. Ufa. Chega de estresse e bora fazer o pré natal direito. A obstetra que me atendeu no começo do pré natal me deixava de lado legal. A equipe DELA não aceitava plano ou seja, eu ia ter que pagar por fora para que ela acompanhasse o meu parto. Como eu já desde o início mostrei que teria parto natural, ela não esclarecia nenhuma dúvida, a secretária nunca agendava as consultas mensalmente. Quando eu ligava para agendar, ela me perguntava se eu era a gestante que queria parto normal... e nunca dava para me encaixar... é mole?

Quando finalmente conheci o tal doutor do plano que era suuuuper a favor do parto natural eu chorei e contei para ele toda a saga pela busca do parto natural e ele foi um fofo, super me apoiou e bla bla bla...

Quando completei 39 semanas fui à consulta e na sala de espera vi que várias gestantes estavam todas arrumadinhas e com a mala da maternidade e fui fuxicar para saber mais sobre elas. Descobri que TODAS iam fazer cesárea porque o doutor fofinho não fazia parto normal. Os motivos que me falaram foram: 'meu primeiro filho nasceu de cesárea então... uma vez cesárea sempre cesárea'; 'ah, eu sou muito novinha/magrinha/bacia estreita'; 'quero ligar então o doutor vai aproveitar e fazer após a cesária'... e eu entrei em pânico. Como assim!!!!!! 

Quando chegou a minha vez ele foi bem frio comigo. Pediu para deitar e já me deu um toque. Senti muita dor e reclamei. E ele me disse que se eu reclamo de um mísero toque, não aguentaria as contrações do parto normal. E sempre que tinha a oportunidade ele dava uma caçoada pela minha opção.

Após o toque ele me disse que eu estava com 1 cm de dilatação e que a qualquer momento meu filho poderia nascer e que eu precisava agendar uma data com a secretária dele pois ele estava cheio de cesáreas até sexta feira, estávamos na terça.

Neguei escolher uma data e ele então com uma voz bem grossa e puto da vida recomendou sem um pingo de gentileza que eu procurasse um hospital público porque lá eu teria o meu 'sonhado' parto normal mas que eu ia sofrer muito e mesmo implorando por uma cesárea eu não ia ter.

Saí do consultório revoltada e morrendo de vontade de fazer um escândalo e denunciar. Mas não tive coragem e me vi sozinha e abandonada. A minha família não apoiou a minha atitude. Meu marido no momento não teve ação, apenas disse que a decisão era minha porque o corpo era meu. E entrei em pânico na noite de terça, eu era um poço de estresse. Estava com raiva do mundo. Eu queria parir, apenas isso. Minha irmã na época com 11 anos viu o quanto eu estava mal e começou a ligar para os hospitais que aceitavam o meu plano e perguntava se eles atendiam parto sem agendamento prévio e todos diziam que era necessário uma equipe, obstetra tralalalá. Ou seja, não quis arriscar chegar parindo e não ser atendida ou então cair em uma cesárea desnecessária com plantonista.

Cometi o grande erro de escolher um hospital universitário que era bem perto da minha casa. Não conhecia o termo violência obstétrica, não sabia do tipo de tratamento que as mulheres eram submetidas nesse hospital. A única coisa que eu sabia é que se eu optasse de ir para o hospital particular eu terminaria sendo operada sem necessidade.

Na quarta por volta das 18h senti uma enxurrada de água saindo da minha vagina, eu estava na casa da minha avó com meu pai e minha irmã. Marido estava em outra cidade trabalhando e minha mãe no bairro ao lado. Entrei em pânico. Não tinha para quem ligar e com a pressão da família, achei que ficaria mais segura e bem monitorada dentro do hospital.

Chegando lá fui super bem recebida. Até o momento, eram quase 19h eu não tinha sentido absolutamente nada, o líquido já tinha parado de sair. Estava mais relaxada após ter sido examinada pela residente. Quando fui me despedir dos meus pais, meu marido foi barrado. 'Normas da casa'. Insisti pela presença dele, mas ambos acatamos por puro medo de represália depois. Que burra. Após receber um leito, imediatamente precisei vestir aquela roupa onde eu fiquei com a bunda toda de fora. Morri de vergonha.

Depois, uma enfermeira me pediu para deitar e tentou várias vezes encontrar a veia para colocar o soro. Em nenhum momento ela me explicou o porque do procedimento, apenas o fez. O relógio marcava quase 20h. Deitava, eu comecei a sentir umas dores insuportáveis. Com um intervalo de 10 minutos entre cada contração. Liguei para o meu marido e contei o que estava acontecendo, ele meio que apavorada por eu já está sentindo dores sinistras e a família toda do lado de fora do hospital já imaginando que eu ia parir a qualquer momento. 

De repente a enfermeira volta e eu relato sobre as dores super fortes e ela pede para eu deitar de lado virada para a parede. Depois ela me diz que vai fazer um procedimentozinho, mas que não doi nada. Ela me fez um enema. Não entendi nada, só sei que eu saí correndo para o banheiro porque precisava fazer cocô urgente. Chegando na cabine, o vaso não tinha tábua e muito menos havia papel para me limpar. Chorei. Fiz o cocô em pé com uma barriga de 39 semanas e 4 dias e de brinde com o soro na veia e contrações alucinantes. Como não tinha papel higiênico e muito menos uma duchinha, voltei correndo para o meu leito com a bunda de fora e suja e me limpei com o lenço umedecido. Humilhante a cena.

As contrações eram tão sinistras que eu não conseguia direito anotar o espaçamento entre uma e outra. 

Um residente super simpático chegou para conversar um pouco comigo, saber sobre o meu pré natal e me dá um toque. 2 cm de dilatação. Não acreditei quando ele disse que eu estava com apenas 2cm!!! Eu não ia aguentar as dores quando chegasse nos 5 cm!!!! 

Chamei a enfermeira e avisei que estava com bastante sede e fome. Bem, nem preciso dizer que ela cagou para mim. Então eu perguntei se ela poderia me ajudar pois eu estava sentindo muitas dores e não sabia o que fazer naquele momento para melhorar e ela com uma delicadeza de Ogra mandou eu deitar de lado e esperar.

Novamente recebi um toque. E outro e mais outro. 3cm...

Levantei e fui andar pelo corredor. Daí vinha uma contração e eu procurava uma posição que incomodasse menos. O corredor estava escuro, um silêncio, várias mulheres recém paridas com um olhar triste. Uma me chamou e disse que se eu gritasse, as enfermeiras iam me maltratar. Então eu sofri calada. Segurei minha dor como pude. E o dia ainda não tinha acabado.

As dores eram tão insuportáveis que eu me senti um pouco desnorteada. Só sei que eu chorei muito e tentava entender o porque que aquilo estava acontecendo comigo. Não lembrava de ter lido relatos onde a mulher era deixada de lado. Só havia lido relatos bem sucedidos, inclusive os das minhas primas. Não lembro delas terem mencionado esses acontecimentos. Pensei várias vezes que não ia aguentar aquela situação por muito tempo, que não era possível que o parto natural fosse algo tão lindo e maravilhoso como eu tinha lido. Era sim, uma grande tortura. 

Passou da meia noite e eu ainda não tinha dilatado nada, ainda nos 3 cm. Nenhuma posição aliviava a minha dor, eu sentia um calor, depois um frio. Daí quando o residente aparecia eu sabia que ia receber outro toque que doía cada vez mais... Ele dizia que eu ia ter meu filho por volta de 7h. E eu contava os minutos para terminar essa tortura.

Não sei direito o que aconteceu comigo das 2h até as 5h. As dores só aumentavam e os intervalos eram muito curtos, quando a dor passava, logo voltava outra bem punk. Então eu não me recordo o que aconteceu nesse período. Só sei que eu implorei para ser levada do meu leito. Eu precisava conversar com alguém e então o residente e a enfermeira me encaminharam para a sala de pré parto. Eu mal conseguia caminhar, me joguei neles e eles meio que me carregaram. Eu totalmente zonza dizia que estava sentindo dores bizarras e eles falavam que faltava pouco que logo eu teria meu filho nos braços, e eu só queria um pouco de tranquilidade.

Novamente eu pedi algo para beber ou comer e novamente me negaram, vai que eu precise de ir para uma cirurgia... eu me sentia cada vez mais fraca, sem forças e a cada minuto eu estava desacreditando que eu teria um parto natural. Ora, no momento em que barraram o meu acompanhante deixou de ser natural, vamos combinar.

O residente mandou que eu deitasse na maca. Eu pedi para ir ao banheiro pois queria fazer cocô. Ele não deixou, disse que era assim mesmo, e que eu não podia mais levantar. Eu implorei para ele ficar perto de mim, que não me deixasse sozinha, a sala de pré parto era vazia, com luzes super fortes e muito gelada. Eu tremia de frio. Uma dor na lombar, parecia que minha bacia ia explodir de tanto que doía. Eu precisava levantar, ou mudar de posição, pois aquela estava difícil de suportar. Mais uma vez ele me veio me dar um toque e eu implorei para que ele não fizesse aquilo pois doía demais, mas ele 'precisava'. E ainda não passava de 7 cm.

Antes da virada do plantão, por volta de 06:50, a obstétra veio se despedir de mim. 2 minutos depois ouço uma voz com aquele ar de 'como sou superior' entrando na sala de pré parto e sem ao menos me dar um 'bom dia, sou o fulano de tal e vou acompanhar o teu parto....', já chegou mandando eu sair da maca e ir andando para o centro cirúrgico. Eu disse que não ia conseguir pois estava com as pernas tremendo de frio além de sentir muita dor na coluna, ele então pediu para que eu parasse de frescura que ele não queria perder mais tempo com essa palhaçada.

O residente então me ajudou a levantar e a deitar na mesa na sala do centro cirúrgico. Quando consegui ajeitar minhas pernas nas perneiras, me senti tão desprotegida. Ali sozinha, toda arregaçada, os profissionais em nenhum momento olhavam nos meus olhos, ou trocavam alguma palavra comigo. Me senti tão mal, tão humilhada em ficar naquela posição. De repente uns estudantes de medicina entraram no centro cirúrgico e ficaram fixados e muito atentos à aula do ilustre professor e obstetra super respeitado no HUGG. Lembro que além do obstetra e alguns alunos, tinham também uma enfermeira e o residente que me deu zilhões de toques. 

Fui obrigada a ficar deitada, e essa posição foi muito incômoda, pois precisava ficar com as pernas bem afastadas na perneira, com a bunda quase para fora da maca. Eu queria tentar entender o que estava acontecendo mais deitada era quase que impossível. Sendo que colocaram um pano que tapou mais ainda o pouco que era possível de ver. 

Como contei, fui para o centro cirúrgico com menos de 8 cm de dilatação e por não poder ver absolutamente nada e nem ter alguém de confiança para me relatar o que estava acontecendo, eu não sei direito o que o obstetra estava fazendo. Só sei que senti como se ele tentasse com força enfiar a mão dentro da minha vagina, eu reclamava muito e ouvia uns fora do tipo: 'cala a boca, você quis parto normal agora aguenta'. Daí ele mandava eu fazer muita força. Só que por causa do soro, eu sentia dores o tempo todo, então ele tentava dirigir meus puxos de uma maneira muito errada. Como eu estava tão alucinada de dor e achando que eu ia morrer a qualquer momento eu tentava fazer força quando ele mandava mas fazia errado e ele brigava comigo por está fazendo errado... Mas naquela altura do campeonato eu já não tinha mais noção de nada. Sentia uma fome e uma sede absurda, estava tão fraca, a boca totalmente seca, me contorcendo de dor quando senti uma lâmina me rasgando. Imediatamente eu perguntei que porra era aquela, se ele tinha me cortado, porque eu senti uma dor absurda e parecia que era um mega talho da vagina até o anus, essa era a sensação que eu tive na hora. Ele não respondeu absolutamente nada. A minha vontade era de levantar e espancar aquele escroto, não conseguia entender que mal eu tinha feito para ele me tratar daquele jeito. Mais uma vez senti suas mãos entrando em mim, como se ele quisesse arrancar o meu bebê na marra. Foi quando senti um gelado entrando na minha vagina mas que dava a impressão de que estava me cortando de tão forte que entrou, daí eu imediatamente perguntei o que ele estava fazendo comigo. Quando soube que aquilo era o fórceps, eu não sei de onde tirei forças e a minha sorte foi que ele não puxou o meu filho imediatamente, esperou duas contrações e então após fazer força duas vezes eu consegui expulsar o meu bebê. Que sensação maravilhosa, sem brincadeira. Não sei como explicar, mas o expulsivo foi uma delícia. 

Novamente me senti desnorteada querendo informações sobre o meu filho e era como se eu não tivesse ali, depois de um tempo ele veio para perto de mim, me disseram que ele estava bem, perfeito, 20 dedos... depois o levaram para longe de mim. Com certeza fizeram o clampeamento do cordão imediatamente após o nascimento, deve ter sido aspirado... não sei, mas com certeza fizeram. Me culpo muito por não ter conseguido segurá-lo quando tive oportunidade, mas minhas mãos ficaram segurando um puxador na lateral da maca nos momentos que dirigiam meus puxos e eu apertei tanto por fazer força no momento errado que após o parto eu não consegui soltar de tanto que apertei, tanto que até sangrou por causa da unha. Meu filho não pode ser amamentado logo na primeira hora de vida porque eu esqueci em casa o último exame de sangue então eu só poderia dar o peito quando o exame que eles fizeram em mim quando dei entrada no hospital ficasse pronto. 

Ainda deitada após o parto precisei fazer mais força para que a placenta saísse totalmente. Mas eu sentia tanta dor que não estava entendendo mais nada. Fiquei por mais um tempão deitada com as pernas nas perneiras e chegou a hora de uma residente fazer a sutura da episiotomia gigante que o professor fez e mim. Daí ela enfiava a agulha e errava, e o professor orientava o certo e eu lá cheia de dor, fome, sede e frio. Foi horrível, eu só queria ir pra casa com meu filho.

obstetra residente no momento da sutura

a EPISIOTOMIA GIGANTE
que fizeram desnecessariamente. :(


7 comentários:

  1. Minha querida Amiga Rebeca, como eu chorei lendo seu relato! Que absurdo esses maltratos, essas aberrações. Ainda dá tempo de denunciar essa gente maldita toda? Pede teu prontuário e vê uma forma. Um momento que deveria ser sublime para vc e para todas nós mulheres foi roubado de você vergonhosamente. Que tristeza e vergonha pelos maus profissionais que não tiveram decência em te atender. Isso não pode ficar assim! Ainda bem que Guilherme é um filho maravilhoso e ser mãe é realmente uma benção que construímos diariamente. Que essa história de violência que se repete a cada dia com outras mulheres acabe! Nosso trabalho de formiguinha não será à toa! Beijos!

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  2. Q odio dessa gente q fez seu parto! Em pensar q isso acontece tds os dias. Oq levampessoas desse tipo querer ser medicas? Para trabalhar na area da saúde deveriam ser humanos!!!

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  3. Nossa muito triste seu relato.Eu tive que fazer uma cesariana porque a 41 semanas e 5 dias ainda nao tinha entrado em TP e logo que internei a plantonista tentou de todas as maneiras possiveis O PN mas nada aconteceu nem dor eu senti.quando trocou o plantao logo veio a medica e disse mocinha venha comigo me esaminou e falou vamos fazer uma cesariana pois seu bebe esta por volta de 4 kilos e meio e assim foi feito nao tenho nada a reclamar desde que internei naquele hospital todos foram super atensiosos comigo me exolicavam tudo direitinho.. Estou gravida novamente e confesso que tenho um certo medo pois vou ganha em outro hospital e tenho medo de como eles podem me tratar por ser o segundo filho...Mas so quero que tudo corra bem.O que eu sei que mesmo tendo uma cesariana eles tentam normal ate o ultimo momento.

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  4. Fiquei muito tensa com seu relato Rebeca.Me compadeci pelo seu sofrimento e desespero.
    Vc se tornou doula por amor.
    Minha filha tb escolheu o parto natural. Ela teve orientação de uma amiga e apesar de muita correria e aflição decidiu ter a filha no Hospital Maternidade Maria Amélia Buarque de Holanda, pelo SUS, deixando o convenio de lado.
    Respeitei as decisões dela e do marido por perceber que eles estavam movidos pelo amor e pela certeza deles de que parir é natural.
    Ela pariu com o marido presente e a doula.
    O hospital atendeu de forma atenciosa e respeitosa.
    Ela ficou num quarto com mais 3 mães, seus acompanhantes e seus bebês. Tudo deu muito certo.
    Minha neta nasceu dia 13 de junho.
    Sou do interior de SP e só pude vir pro Rio dia 20.
    Agora entendo que mudar o conceito de que parto é natural neste mundão capitalista, é difícil.
    As doulas estão ajudando muito nessa transformação.
    Parabéns minha querida.
    Que Deus a oriente sempre .

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  5. Esses "profissionais" são criminosos, deveriam ser presos, que horror!

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  6. Comovente seu relato, Rebeca. Volte para o Blog, querida!

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  7. Relato impactante. Gostei muito do blog. Volta logo com a escrita, Rebeca!

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