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quarta-feira, 3 de abril de 2013

bate papo em Manguinhos

Então...

preciso contar uma coisa... estou com várias postagens no rascunho pois como rolou uma preguiça no início do ano, eu começava e batia aquela 'pregui'... postarei tudinho nesse mês de abril

lá vai, #tudonosmíííínimosdetalhes

Tenho um primo professor de Geografia que tem uma amiga professora de Sociologia e eles dão aula em uma ONG RedeCCAP localizada na favela de Manguinhos. Durante o mês de Março, essa professora veio trabalhando temas relacionados à mulher. 

Comentou com meu primo que trataria do tema sobre o machismo que algumas mulheres sofreram ou sofrem em profissões que são digamos assim predominantemente masculinas. Ele imediatamente lembrou de mim... que me ligou fazendo uma proposta de ir à aula dela contar um pouco da minha história com a turma. 

Logo eu???? Morro de vergonha de falar em público. Juro!!!

A professora entrou em contato comigo explicando que seria um bate papo, que eu não precisava ficar envergonhada, que a turma era bem tranquila e que outras duas mulheres também iriam participar (motorista de ônibus e chefe de obra). Rolou um alívio, já pensei logo em ser a última a falar.

Bem, elas faltaram e quando vi que as atenções seriam somente para o meu lindo ser, entrei em pânico e já cheguei logo falando para a turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA) pegarem leve com as perguntas hahahaha pronto, a Rebeca tímida deu uma relaxada.

Comecei contando desde quando comecei a estudar elétrica no Senai. Era a única mulher da turma. O professor de início não curtiu a minha presença. A minha sorte, foi que fiz o curso junto de outros 3 amigos, inclusive o Rafa que na época era namorado. Houve preconceito sim, mas a maioria eram 'brincadeiras leves' que eles mesmo denominavam, já eu não, aquilo era machismo. Precisei me esforçar bastante para compreender a matéria já que física nunca tinha sido o meu forte, tanto que optei por fazer faculdade de Pedagogia. Abafa!

No final dos 3 cursos básicos de elétrica, consegui respeito e admiração por parte dos 'coleguinhas'. Era empenhada nas aulas práticas e me identifiquei pra caramba com o curso.

Pronto, eu agora era uma eletricista.

Um outro amigo mecânico arrumou um bico de eletricista num barracão de escola de samba. E me chamou para tentar uma vaga lá. O patrão não acreditou que eu tinha feito 3 cursos no Senai, e aquilo me incomodou muito pois o meu amigo não precisou provar nada. Foi contratado e ainda por cima recebendo um salário maior do que o meu. #chatiada

 Fui competente e nunca tive vergonha de pedir ajuda quando não tinha certeza de como executar alguma tarefa. Conseguimos colocar uma outra amiga eletricista para trabalhar conosco. O fato de ter conseguido outra mulher trabalhando num ambiente lotado de 'macho' foi a minha primeira vitória. Saí de lá respeitada também.

Acabou o carnaval assim como o nosso contrato. :( Mas em duas semanas eu e mais 2 meninas, fora os nossos outros amigos conseguimos emprego em uma terceirizada da distribuidora de energia da cidade do RJ, para realizarmos reforma nas instalações elétricas residenciais em comunidades. O nosso salário também era rebaixado e nossa vaga não era de eletricista e sim de ajudante. Sendo que as 3 mulheres eram as únicas que tinham certificado. Os outros que ganhavam o salário de um eletricista, só sabiam que juntando esse fio nesse dava isso. Se o fio fosse diferente, Gêzuis!

Além da desconfiança pelo nosso trabalho, enfrentávamos piadinhas escrotas dos outros funcionários e o pior de tudo, era o preconceito vindo das próprias mulheres donas das casas que íamos reformar. Aquilo me irritava profundamente. Algumas eram bem curiosas e interessadas. Outras até se inscreveram em cursos profissionalizantes da Rede Faetec. Sei lá, por um lado foi bom. No final de cada reforma eu recebia sempre um agrado, seja um cafezinho, um bolo... chocolate... saía de cada casa com aquela sensação de dever cumprido.

O meu uniforme era igual ao dos homens. Calça de brim larguinha e camiseta normal. Eu me sentia a vontade em trabalhar com essa roupa. Nunca passei por nenhuma situação embaraçosa, ainda bem. Mas quando eu estava reformando a casa de homens que você via de cara ele olhando e encarando como quem está de comendo com o olhar, sabe #nojo eu muitas vezes dava a entender que não 'curtia' homens, se é que vocês me entendem... pronto, logo desviavam o olhar.

E papo vai papo vem, a turma fez várias perguntas. Consegui respondê-los numa boa.

A maioria da turma era composta por mulheres mais velhas do que eu inclusive que deram depoimento da visão sobre o machismo que sofrem em casa, locais de trabalho.

O único garoto que estava participando da aula toda hora mexia a cabeça como se não estivesse concordando comigo.

Aí o deixei bem sem graça. Comentei com a professora na frente da turma que um carinha não estava gostando de mim. A turma inteira riu. E ele inclusive. Tentei esclarecer para ele que infelizmente a nossa sociedade é extremamente machista, e que as mulheres tem sim total condição de trabalhar em qualquer área e que é muito injusto ter o trabalho igual ao do homem e não ter o mesmo salário.

E ele concordou que isso realmente não era legal.

Depois me perguntaram sobre a volta ao mercado depois da maternidade. E expliquei que nunca imaginei que seria tão difícil. Dois anos tentando voltar à trabalhar como eletricista e a cada dia que passa mais me desestimulo.

Contei da última entrevista que fiz à uma empresa lá do cais do Porto, para a vaga de eletricista de manutenção de guindaste. No teste, conversei com o supervisor e contei das dificuldades que eu estava tendo para voltar à trabalhar, a primeira era o salário rebaixado por ser mulher consequentemente não conseguindo pagar a creche (12h) e ele concordou que há sim um preconceito, mas que ele não vê problema nenhum, inclusive, todas as mulheres que trabalharam com ele sempre foram muito dedicadas e faziam um trabalho bem feito. Bem, elas fazem isso para poder sobreviverem nesse mercado, néam??? Mas me daria uma chance de pelo menos ter na carteira o cargo de eletricista e não de ajudante. Pois bem, dois meses se passaram e recebi uma ligação convocando para o acerto de contas. Fui lá toda crente que estava bafando e o engenheiro responsável já chegou avisando que a minha vaga seria de ajudante, com o salário bem mais rebaixado. Que no meu curriculo tinha uma quantidade boa de cursos, mas a maioria de 100h, 200h, 300h. Que seria legal eu ter um curso com mais de 1000h. Perguntei se o curso técnico não servia, já que tem muito mais de 1000h. Ele ficou super sem graça. Depois deu a desculpa que estou muito tempo parada, e perguntou o porque. Expliquei que precisei parar por um ano para cuidar do filho que tinha nascido. E que estava a dois anos tentando voltar, mas o preconceito era muito grande e ninguém me dava oportunidade para voltar. Pedi para dar a resposta no dia seguinte, porque o salário não pagava as 12h que o Gui precisaria ficar na creche. Consegui desconto de 50% com a diretora maravilhosa e linda da escola do Gui e retornei a ligação para dizer um belo de um SIM à vaga escrota que ele me ofereceu. Apenas para não ficar parada.

Acreditem...ele queria achar pêlo em ovo. Me ofereceu 2 horários que não daria para levar o Gui na escola e chegar no trabalho a tempo e no outro horário não daria para buscá-lo. Os horários do marido também não dá, trabalha lá na conchinchina. Ou seja, o phéla da Phut@ não queria me dar o emprego de jeito nenhum e conseguiu.

As alunas ficaram revoltadas com essa situação, mas infelizmente é assim.

Estou naquele desespero sabe, uma tristeza sem fim. Até abandonei o blog um pouco por causa dessa situação. Me sinto uma inútil sabe. Odeio depender de 'homi'.

Depois meu primo contou que a turma gostou muito de mim e estou tentando agora marcar um outro bate papo sobre violência obstétrica. No final da aula conversei com uma aluna gestante sobre parto, mas ela tem pavor de cesária, mas não sabia da violência obstétrica, achava que era normal, não sabia do direito à acompanhante... é o bate papo foi muito bom.

:)

2 comentários:

  1. Cejura???? Nossa, que bacana. Muito legal a iniciativa dessa professora. Pena que as outras duas profissionais não puderam ir. Seria muito boa a discussão.

    Imagino tua vergonha, mas depois passou né? O bom que pelo que entendi, os alunos te deixaram a vontade. Isso já ajuda muito.

    Parabéns amiga. Sei que vc luta diariamente por nós mulheres. Sem contar na luta pela humanização do parto.

    Continue assim.

    Beijos, Denise

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    Respostas
    1. Oi Dê!!!!!!!

      Sempre marcando presença aqui no blog! Obrigada!!!

      Então, teria sido muito melhor com a presença das outras duas profissionais, mas a professora curtiu bastante. Eu fiquei a vontade e os alunos também. Tudo fluiu muito naturalmente.

      Beijokas

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